O Peru é uma região de diversas descobertas arqueológicas, porém dessa vez o que os cientistas encontraram não está relacionado ao passado do país e sim ao seu presente. Um novo membro do grupo dos mamíferos foi identificado nas montanhas que fazem fronteira entre o Equador e o Peru: o pudella carlae.

Na verdade, essa é uma descoberta em cima de outra descoberta de muitos e muitos anos atrás. No século XIX, pesquisadores encontraram uma espécie que habita territórios que vão da Argentina até a Colômbia. Ela ficou conhecida como pudu, um pequeno cervo de pele escura. Estudando esses novos animais, os cientistas os separaram em duas espécies: o pudu puda e o pudu mephistophiles. O primeiro habita florestas localizadas na fronteira sul da Argentina com o Chile. Já o pudu mephistophiles vivia nas montanhas citadas do Equador e do Peru, mas também foi encontrada em alguns locais da Colômbia.

Contudo, num estudo recente, os pesquisadores da Divisão de Mastozoologia do Centro de Ornitologia e Biodiversidade do Peru perceberam que os pudu mephistophiles englobam duas espécies diferentes. Algo similar aconteceu mês passado quando um grupo de documentaristas encontrou uma nova espécie de sucuri-verde na Floresta Amazônica. 

A forma típica do Pudu mephistophiles se encontra na região de Huancabamba que vai do Peru até o norte do continente sul-americano. Já a nova, o Pudella carlae, vive exclusivamente no país, bem ao sul da depressão de Huancabamba que abrange cerca de mil quilômetros do norte de Lima, a capital do Peru. Pode não parecer, mas essa descoberta é uma ocorrência muito especial para biólogos pois marca a primeira nova espécie de um cervo no século XXI em todo o mundo.

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Foto: SERNANP/Pudella carlae

O pudu é uma espécie ameaçada de extinção e, dado a sua raridade, ela faz parte dos projetos de conservação do Sernanp, o Serviço Nacional de Áreas Naturais Protegidas do Estado do Peru. Por isso, os pudus peruanos são largamente estudados por pesquisadores da área. O responsável pela descoberta é o cientista peruano, Javier Barrio, que junto da sua equipe identificou, através de análises genéticas e morfológicas, as diferenças entre as duas espécies. 

Guillermo D’Elía, professor da Universidade Austral do Chile, explicou à BBC quais são as principais diferenças entre o pudu mephistophiles e o pudella carlae. A nova espécie é bem maior, tem um pêlo escuro e suas orelhas possuem formatos diferentes. Geneticamente as elas também possuem linhagens diferentes, o que já deixa claro que não podem ser classificadas como sendo da mesma espécie.

Sobre a escolha do nome, a palavra pudu vem da língua mapuche e significa simplesmente “cervo”. Os Mapuches, povo indígena da região centro-sul do Chile e do sudoeste da Argentina, chamava assim todas as espécies que vinham do Chile e da Argentina e logo passaram a utilizar para se referir aos animais encontrados no Peru e no Equador. Já carlae é uma homenagem à Carla Gazzolo, uma das cientistas que contribuiu para a pesquisa sobre os pudus.

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Foto: SERNANP/Pudella carlae

“O nome comum que propomos é pudu da yunga peruana. As yunga, que podem ser encontradas no Peru, são essas áreas florestais onde vivem esses animais”, explica o acadêmico”, disse D’Elía.

O professor considera a descoberta do pudella carlae uma tremenda conquista da comunidade científica. Isso porque ela não se limita em apenas descobrir mais informações sobre as espécies de cervos do continente sul-americano, mas também pelo fato de que foi feito em meio a um grupo ameaçado de extinção. Isso ressalta ainda mais a importância da conservação para o avanço do campo da biologia. 

“Não sabemos muito sobre sua história natural. Não sabemos como eles se movem, como se alimentam, como acasalam. Por isso é importante continuar na área e estudá-los”.

Um estudo sobre a nova espécie de pudu foi publicado na Journal of Mammalogy.

Informações retiradas do site socientifica.com.br (em 14 de março de 2024).

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