A varejista chinesa de fast fashion Shein anunciou recentemente uma mudança significativa em sua política de bem-estar animal: está proibida, em toda a sua plataforma — incluindo o marketplace de vendedores terceiros — a venda de produtos feitos com peles, penas e couros de animais silvestres e exóticos, como cobras, crocodilos e avestruzes.

A decisão vem após denúncias feitas pela organização de direitos dos animais PETA (People for the Ethical Treatment of Animals), que identificou itens com esses materiais sendo vendidos no marketplace da Shein em 2024, mesmo após a empresa já ter anunciado uma política contra o uso de peles em suas marcas próprias.

Segundo a PETA, a medida foi resultado de uma reunião com a Shein, na qual foram apresentadas evidências do sofrimento animal envolvido nesse tipo de comércio. “Todo casaco de pele de coelho ou bolsa de couro de crocodilo é feito com o sofrimento de um ser senciente que não queria morrer”, declarou Tracy Reiman, vice-presidente executiva da organização. Ela elogiou a decisão da empresa e encorajou outras marcas a seguirem o mesmo caminho.

Com essa nova política, a Shein se junta a uma crescente lista de marcas que baniram peles e couros de animais selvagens, incluindo Chanel, ASOS, Canada Goose, Nike e Nordstrom. A pressão por parte dos consumidores e ativistas tem crescido, à medida que documentários e investigações secretas expõem os horrores por trás da indústria: animais enjaulados, eletrocutados, esfolados vivos ou mortos por asfixia.

Além do sofrimento animal, a indústria de peles é altamente poluente — contribuindo para a contaminação de água, degradação do solo e emissões de gases de efeito estufa.

Sustentabilidade: um ponto ainda distante

Apesar do avanço na política de bem-estar animal, a Shein continua sob fortes críticas por seu modelo de negócio baseado em produção em massa, baixíssimos preços e enorme rotatividade de produtos. Em 2023, a empresa foi responsável pela emissão de 16,7 milhões de toneladas métricas de CO₂ — mais do que quatro usinas termelétricas a carvão em um ano. A maioria de seus produtos (76%) é feita de poliéster, material derivado de petróleo que contribui para a poluição por microplásticos. E apenas 6% desse poliéster é reciclado.

No campo trabalhista, as denúncias são igualmente graves. Investigações revelaram que trabalhadores de fábricas fornecedoras da Shein enfrentam jornadas de até 75 horas semanais, com remunerações abaixo do salário mínimo e em ambientes insalubres.

Metas e promessas para o futuro

Em resposta às críticas, a Shein anunciou metas para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em 25% até 2030 e alcançar emissões líquidas zero até 2050. A empresa também tem investido em inovações sustentáveis, como a impressão de denim que economiza água, além de aumentar o uso de materiais reciclados nas embalagens. Paralelamente, prometeu reforçar as auditorias em sua cadeia de fornecimento para combater violações trabalhistas.

Essas medidas exigem mudanças estruturais, como a revisão de contratos com fornecedores, atualizações nas políticas da plataforma e sistemas de monitoramento rigorosos para garantir o cumprimento das novas diretrizes.

Moda rápida pode ser sustentável?

Apesar dos compromissos assumidos, especialistas e ativistas ambientais questionam se um modelo de negócios baseado no consumo acelerado, na produção em massa e em preços extremamente baixos pode, de fato, ser sustentável. A contradição entre iniciativas pontuais e os impactos estruturais do fast fashion permanece.

A proibição de peles e couros exóticos é, sem dúvida, uma vitória para os direitos animais. Mas, enquanto práticas poluentes e exploração de mão de obra persistirem como pilares da cadeia de produção, a Shein continuará sendo um dos símbolos mais controversos da indústria da moda.

E você? Acredita que o fast fashion pode um dia ser verdadeiramente sustentável — ou estamos apenas maquiando um problema muito mais profundo?

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