A dor é uma experiência universal e um dos principais problemas enfrentados pelos animais. No entanto, a incapacidade dos animais de se comunicarem verbalmente com os seres humanos torna desafiador identificar a causa da dor e, consequentemente, proporcionar o alívio necessário. Felizmente, na cidade de Botucatu, localizada no Campus da Unesp, um grupo de pesquisadores tem se dedicado há mais de uma década a ampliar o conhecimento sobre a dor em animais não humanos, com o objetivo de identificá-la, avaliá-la e encontrar formas de cura.
Esse valioso conhecimento está disponível na forma de um aplicativo inovador chamado VetPain, desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp). O aplicativo oferece uma abordagem abrangente e acessível para auxiliar tanto tutores de animais de estimação quanto profissionais veterinários na identificação e mensuração da dor em diferentes espécies.
O VetPain é uma ferramenta indispensável para determinar o nível de desconforto em animais de companhia, como cães, gatos e coelhos, além de ser útil também na avaliação de animais de produção, como bovinos, equinos, ovinos e suínos. Ele fornece uma variedade de vídeos instrutivos e escalas específicas, permitindo que os usuários, sejam eles leigos ou médicos veterinários, possam avaliar e tratar adequadamente a dor nos animais.
A ideia por trás do VetPain é popularizar o conhecimento sobre a dor nas diferentes espécies e garantir que os animais recebam o cuidado adequado quando estão sofrendo. Esse aplicativo revolucionário representa um avanço significativo na forma como a dor em animais é abordada, fornecendo uma ferramenta acessível e eficaz para melhorar o bem-estar animal e promover a saúde de nossos companheiros não humanos.
Neste artigo, exploraremos as funcionalidades e benefícios do VetPain, destacando como essa inovação está transformando a maneira como a dor em animais é compreendida e tratada.
Uso do VetPain
Ao abrir o aplicativo, a primeira etapa é selecionar a espécie animal a ser avaliada. Com um simples clique na figura correspondente ao animal, uma página com várias escalas de avaliação de dor é exibida. Cada escala é acompanhada por características específicas, instruções sobre como avaliar cada uma delas e uma prévia dos aspectos que devem ser considerados. Além disso, vídeos ilustrativos são fornecidos para exemplificar os diferentes comportamentos que indicam dor no animal.
Uma vez concluída essa etapa, o aplicativo fornece uma pontuação com base na qual pode ser necessário o uso de analgésicos. Ele também direciona os usuários para a avaliação completa, que requer o preenchimento de um cadastro com alguns dados pessoais. Essas informações são valiosas para traçar um panorama sobre o interesse pela dor, incluindo se os usuários são tutores ou veterinários, além de dados demográficos, como gênero.
Isso é especialmente importante, pois estudos mostram que historicamente os homens tendem a subestimar a dor e administrar menos analgésicos aos animais. De acordo com os pesquisadores, o programa tem uma taxa de acerto de 80% dos casos. No entanto, a meta para os próximos anos é aumentar ainda mais a precisão, expandindo o banco de dados utilizado pelo aplicativo.
Para orientar os usuários na mensuração da dor, o VetPain disponibiliza uma ampla variedade de vídeos. Esses vídeos descrevem as reações e comportamentos dos animais em diferentes situações, ajudando os usuários a interpretá-los corretamente. Por exemplo, eles podem aprender como um cachorro com dor se comporta quando está agitado ou com medo.
Após entender o significado de cada comportamento, os usuários são convidados a realizar alguns testes que avaliam a sua capacidade de identificar a dor nos seus animais de estimação. Somente num estágio posterior, o aplicativo aborda a mensuração da dor com base em escalas específicas para cada espécie.
As escalas de dor disponíveis no aplicativo é resultado de anos de pesquisa conduzidos pelo grupo da Unesp. Atualmente, um projeto de pesquisa coordenado pela Dra. Luna, na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), está focado no estudo da dor e na melhoria da qualidade de vida dos animais.
Grande parte desse trabalho foi disponibilizada no site Animal Pain (www.animalpain.org), e o aplicativo VetPain é uma extensão dessa iniciativa. Com o VetPain, a avaliação da dor em animais se torna mais acessível, precisa e confiável, promovendo uma melhor qualidade de vida para os nossos companheiros de quatro patas.
Contribuição para médicos veterinários e pesquisas
Investir no bem-estar animal e no tratamento adequado da dor também traz benefícios financeiros para os criadores de animais de produção. Estudos demonstram que a analgesia em animais de produção, como bovinos e ovinos, não apenas melhora seu bem-estar, mas também aumenta a eficiência produtiva e reduz as perdas econômicas associadas à dor e ao estresse.
O VetPain, além de beneficiar tutores leigos, desempenha um papel crucial na melhoria da capacidade de avaliação de médicos veterinários e profissionais da área. Ao fornecer diretrizes claras sobre o que observar e avaliar, o aplicativo auxilia os profissionais a aprimorar suas abordagens e diagnósticos em relação à dor animal. Os pesquisadores da Unesp destacam a importância de conhecimentos atualizados sobre a dor nas diferentes espécies e ressaltam que as escalas de dor fornecem resultados mais precisos do que apenas a experiência prática.
Ao longo dos anos, os pesquisadores da Unesp desenvolveram escalas de dor específicas para diferentes espécies, como cães, gatos, bovinos e ovinos. Além disso, estão explorando o uso da inteligência artificial para a avaliação automatizada da dor animal, utilizando expressões faciais como indicadores. Os resultados obtidos até o momento pela IA têm sido promissores, alcançando uma precisão de 80% na identificação da dor, superando a avaliação humana.
Dessa forma, o VetPain não apenas promove o bem-estar animal e auxilia tutores leigos, mas também aprimora a prática veterinária, beneficiando tanto os profissionais quanto os animais.
Qual é a sua opinião sobre aplicativos projetados para ajudar em questões veterinárias?
Informações retiradas do site jornal.unesp.br (em 26 de junho de 2023).