O uso do canabidiol (CBD) na medicina veterinária tem ganhado destaque e gerado debates acalorados em todo o mundo. No entanto, a regulamentação dessa prática ainda é um assunto delicado. Enquanto avanços significativos têm sido alcançados na utilização de derivados da cannabis para fins medicinais em seres humanos no Brasil, a prescrição desses produtos para animais ainda não foi autorizada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Os benefícios do canabidiol na medicina veterinária
O uso de canabidiol na medicina veterinária segue padrões semelhantes aos tratamentos em humanos e oferece diversos benefícios. Entre eles, destacam-se:
- Relaxamento muscular: O CBD possui propriedades relaxantes musculares, o que o torna útil no tratamento de dores decorrentes de doenças como a osteoartrite.
- Ação antioxidante e anti-inflamatória: Essas propriedades tornam o CBD uma opção eficaz no tratamento de doenças como câncer de mama e pulmão, alergias, doenças cardiovasculares e respiratórias em animais de estimação.
O cenário regulatório
A resolução RDC Nº 327 da Anvisa, publicada em dezembro de 2019, permite a importação, comercialização e prescrição do canabidiol apenas para fins medicinais de uso humano. Embora exista um projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional que busca autorizar o uso do CBD na medicina veterinária, sua aprovação ainda é aguardada.
Um dos principais pontos de controvérsia é o potencial efeito tóxico do THC (tetrahidrocanabinol), um composto presente na planta, quando administrado em animais. A dose mínima para toxicidade por THC em cães é estimada em 0,5mg/kg, segundo a Associação Canadense de Medicina Veterinária Canabinóide.
No entanto, defensores do uso da planta argumentam que testes realizados em animais permitem avaliar previamente os possíveis efeitos sobre os pets. Além disso, a maioria dos medicamentos à base de Cannabis sativa utiliza apenas o canabidiol, que não apresenta toxicidade.
Casos reais de sucesso
Há casos reais que demonstram os benefícios do uso medicinal da cannabis em animais de estimação. Por exemplo, em Valinhos, interior de São Paulo, o clube Família Haux, fundado por Tatiane Santos e Paola Fernandes, tem revolucionado a qualidade de vida de pacientes, tanto humanos quanto caninos. O tratamento com CBD ajudou a aliviar crises de ansiedade em humanos e a recuperar um cachorro que tinha ferimentos nos olhos.
Outro caso notável envolveu a gata Marie, que sofria de crises respiratórias devido a uma rinite alérgica crônica. Após o veterinário recomendar o uso de óleo de CBD, Marie recuperou seu apetite, ganhou peso e se tornou mais ativa em apenas um mês de tratamento.
Apesar desses casos de sucesso, a regulamentação do uso veterinário dos compostos da planta permanece incerta.
O desafio regulatório e ético
O uso de canabinoides na medicina veterinária é complicado devido à complexa rede de leis e regulamentações. Enquanto alguns veterinários afirmam que os compostos da cannabis demonstram eficácia comprovada no tratamento de diversas condições em animais de estimação, as resoluções da Anvisa estipulam que essa prerrogativa é limitada aos profissionais de medicina e odontologia devidamente licenciados.
Essa falta de clareza regulatória deixa os veterinários em um “limbo” legal, com incertezas sobre sua capacidade de prescrever tratamentos à base de cannabis.
Amplas aplicações e pesquisas
Além do alívio da dor e do tratamento de transtornos respiratórios, os canabinoides têm demonstrado eficácia no tratamento de condições como câncer, diabetes e retinite pigmentosa, destacando sua versatilidade e potencial terapêutico. Essas substâncias também oferecem uma alternativa natural para aliviar o desconforto em animais de companhia com osteoartrite.
A pesquisa sobre o uso de canabinoides na medicina não é recente, com ensaios clínicos controlados em andamento há mais de duas décadas. Produtos à base de cannabis, como o dronabinol e a nabilona, já encontraram aprovação médica, oferecendo novas opções terapêuticas tanto para pacientes humanos quanto para animais.
Explorando o alívio da dor em animais
Um estudo recente publicado na revista Frontiers in Veterinary Science em 2022 analisou o efeito analgésico dos canabinoides e extratos sintéticos em animais de estimação. A pesquisa aprofundou a compreensão das vias de sinalização do sistema endocanabinoide e destacou o potencial da cannabis como uma alternativa promissora no controle da dor em animais de estimação.
O médico veterinário Rodrigo Montezuma, presidente do Grupo de Trabalho para suporte técnico na proposta de regulação de substâncias canabinoides para uso terapêutico do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), ressaltou a importância dos compostos da planta no tratamento de dores osteoarticulares e crônicas, enfatizando que o THC, muitas vezes visto como “vilão”, é uma substância indicada para alívio da dor.
À medida que a pesquisa avança, o potencial terapêutico dos canabinoides na medicina veterinária se torna cada vez mais evidente, oferecendo uma visão das promessas e desafios associados ao uso dessas substâncias no alívio da dor em animais de estimação. No entanto, até que regulamentações claras sejam estabelecidas, veterinários e tutores de animais continuam enfrentando incertezas sobre o uso do canabidiol na medicina veterinária.
Com informações do site sechat.com.br (em 26 de outubro de 2023).